CMCB – Discurso da oradora da turma do 3º Ano (Brenda Evellyn)

2 de dezembro de 2017 - 11:06

Excelentíssimo Sr Secretário de Segurança Pública e Defesa Social, Delegado da Policia Federal André Santos Costa, do qual saúdo todas as autoridades civis, ilustríssimo Sr Comandante Geral do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará, Cel Heraldo Maia Pacheco, do qual saúdo todas as autoridades do Corpo de Bombeiros e outras forças presentes, Ilustríssimo Sr Comandante Diretor do Colégio Militar do Corpo de Bombeiros Escritora Rachel de Queiroz, Cel José Nildson de Oliveira, do qual saúdo todos os senhores professores, famílias, convidados e colegas formandos, boa noite!

Fui apresentada como Brenda Evellyn, mas agora já não falo mais apenas por mim. Falo por nós. Nós, formandos do Colégio Militar do Corpo de Bombeiros Escritora Raquel de Queiroz, turma de 2017. Nós, que nem em nossas experiências mais rápidas imaginaríamos que parcela das nossas vidas passaria tão depressa, e eis que estamos aqui: Estamos nos formando. Estamos aposentando nossas boinas que há anos nos foram entregues sob este mesmo teto, ouvindo o retumbar de nossas vozes infantis ressoando um dos nossos primeiros juramentos que agora, nesta noite, dá-se por cumprido. É o fim de um ciclo que aprendemos a amar.

Por vezes, tentamos não gostar disso tudo, é verdade. Sentimos muito por isso, mas é verdade. Tentar sentir aversão pela rotina, pelas atividades incontáveis, pelos testes que só estariam começando, pelas notas, pela responsabilidade se formando e pesando cada vez mais. Que Deus e a Pátria nos perdoe, mas tentamos por vezes não gostar até dos hinos que nos eram impostos todas as manhãs, os comandos militares, a pressão constante e exaustiva. E no fim, falhamos nas tentativas, em todas elas. Talvez amanhã acordemos atordoados para não perder o horário e se atrasar para a escola (o que, convenhamos, a maioria de nós sempre falhou nisso também *risos*), até nos dar conta que passou. Que acabou. O nosso ponto final, o “fora de forma!” de desfecho e a nossa marcha em direção ao aurifulvo clarão gigantesco que é a vida começa oficialmente hoje.

Lembramos muito bem como todo esse ciclo começou, é claro. Muitos de nós estávamos juntos. Apenas crianças cuja a única preocupação era… Bem, ser criança… E não correr pela escola com o uniforme de trânsito: caso contrário, esse seria nosso acesso ao clamado e temido — na época — CAD. E a cada dia que se passava, ano e série que avançamos, menos nos dávamos conta e esquecíamos de gravar mentalmente cada detalhe que um dia nos faria falta. E já faz. Naquela época não nos preocupávamos do que podia ficar no caminho que já sabíamos qual seria o primeiro destino que é este que estamos vivenciando nesta noite. Mais que canetas, folhas de papel e uniformes que não nos cabia mais, deixamos também em cada parada um aprendizado de um professor querido, um amigo que por condições adversas pode não ter nos acompanhado e estancado no caminho ou mudado sua rota. Tudo isso foram marcas e perdas que de acordo com os dias fomos deixando por este mesmo caminho, como uma trilha para não nos perdermos caso queiramos voltar para o início. O início de tudo. E agora absorvemos e guardamos essas memórias como provações do que um dia fomos e do que queríamos ser. Lembram-se? Quando nos perguntavam o que queríamos ser, dizíamos que seríamos futuros astronautas, malabaristas, cantores, cientistas… Uma profissão pra cada dia da semana e agora estamos aqui. Mudamos nossas mentes e este último ano foi recheado dessas mutações internas, todos compartilhamos o mesmo sentimento de confusão e preocupação com o temido futuro, o dia de amanhã sendo alimentado por doses de cafeína matinal. Para a maioria de nós, o medo foi personificado por uma sigla que passamos o ano inteiro para enfrentar e acreditar que nos definiria. Agora ditamos que esse resultado não nos define, a maior prova estamos diariamente enfrentando e ela nem se compara à uma múltipla escolha, ela é dotada de questões abertas. A vida é, realmente, o maior teste pelo qual iremos passar, e apesar de não existir média, números ou respostas incompletas, os pontos de participação é que definirão nosso resultado final.

Com isso, em todos os dias vividos nesta nossa segunda casa, no nosso colegial, concluímos que mudamos, e continuaremos mudando, erramos e continuaremos errando, para que um dia, quando nos perguntarem o que queremos ser, nós não precisemos adivinhar: NÓS SEREMOS.

Ao longo de toda nossa formação, interação humana era inevitável, assim como os conflitos de convívio também. E senhores, nossos conflitos sempre foram épicos. Nossos pacificadores, nossos queridos monitores, nossos instrutores, tiveram muita dor de cabeça. Porém, se não fosse assim, não teria sido nós. Gratidão por tê-los juntos conosco em nossa história e de terem nos auxiliado com tamanho zelo e paciência.

Bom, de fato, não existem histórias se não houver ninguém para reproduzi-las. Encarregaremos a reprodução à esses corredores pelos quais passamos todos os dias, à essas paredes que já ouviram inúmeras narrações inesperadas vindas de nós, ao eco desta quadra que ouviu nosso brado bárbaro ressoando “selva” tantas e tantas vezes, aos quadros em branco que já foram escritos para nós pelos escritores e auxiliadores dessa mesma história, ao refeitório que era nosso acolhedor entre turnos… Em toda essa estrutura que chamamos de lar. O CMCB patenteou nossas histórias aqui vividas e longe de serem esquecidas, nos uniu e ensinou que, no final, é a paz a nossa sagrada missão.

Esse ciclo definitivo não seria sustentado sem crença e orientação que foi e é crucial ao nosso aprendizado durante todo esse caminho, e nada mais merecido e contemplativo preenchê-lo com os menestréis de nossa formação, nossos professores, pelos quais guardamos a gratidão por terem nos segurado até o fim e nos preparado para o começo.

Quando o sinal toca é hora do intervalo ou o horário de fim de aula. O sinal agora ecoa e não é nenhum dos dois. É nosso desfecho, é a vida nos ordenando voar em ligeiro. Chegou o nosso último capítulo que, acreditem, foi o mais difícil de escrever e descrever. Anos só são possíveis de descrever detalhadamente apenas com anos de descrição, mas para o fim é necessário apenas um período. E esse período nós estamos vivenciando neste momento.

Esse sinal que agora ecoa é a nossa missão dupla, é o navio em que estivemos avisando que chegamos ao porto e já é hora de atracar.

Após o fim, sejamos nossas próprias âncoras no nosso ordinário marche sem nenhum passo para darmos atrás na direção em que escolhermos.

Obrigada e até logo.

Brenda Evellyn da S. Borba

01 de dezembro de 2017.